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Em entrevista para o site espanhol XL Semanal, Lana Del Rey falou sobre o álbum Ultraviolence, má imprensa, seu sucesso, internato e muito mais. Leia abaixo a tradução da matéria:
Lana Del Rey fala com aquela voz doce que a tornou famosa. Sentada em um terraço em Los Angeles com shorts, uma camisa branca e com os pés descalços, fumando um cigarro atrás do outro, poucas horas após o primeiro single do Ultraviolence, seu terceiro álbum, chegou ao mercado. Longe de se comportar como uma estrela, cada vez que se refere a uma fama que parece não acreditar em tudo, Del Rey usa um eufemismo: “Desde que me tornei visível…”. Algo que aconteceu em 2011, graças ao videoclipe da música Video Games e um estilo nostálgico que tornou-se sua marca registrada. Seu segundo álbum, Born To Die, vendeu cinco milhões de cópias no mundo todo.
Mas desde que tornou-se “visível”, Del Rey vive em meio a polêmicas. Especialmente desde que o The New York Times a dedicou um artigo intitulado: “Lana Del Rey é uma fraude.” Seus detratores a acusam de ser um produto pré-fabricado por um pai milionário, os lábios são o trabalho de um cirurgião plástico, que seu nome artístico é o trabalho de um publicitário astuto e, em um momento de divas extravagantes e sexy, ela é o perfeito contraponto ‘retrô’ saído da cabeça de algum gênio do marketing. Ela se queixa, por fim, não ser verdade. Mas ao estar próximo dela, parece tudo menos um produto. Amável e amigável, quer contar sua história. Ela está cansada de todos contar a sua história por ela.
-Ultraviolence é o seu terceiro álbum. Qual estado de espírito ele reflete?
Um estado de espírito sexy, incomum para mim [risos]. É também um disco livre. Eu gravei em seis semanas. Foi muito divertido. Antes disso, era muito difícil.
-Você refere-se ao seu êxito repentino?
Sim. Apesar de muitas pessoas terem comprado o meu último álbum, eu sabia que nem todos tinham gostado dele. Teve aqueles que escreveram que ele era horrível, até mesmo prejudicial.
-Você se sentiu maltratada pela imprensa?
Presentearam-me com uma má reputação [risos].
-E você não merecia?
Por que eu deveria merecer isso? Sou uma boa menina.
-Eles a acusam de ser uma estrela pré-fabricada…
A autenticidade não me parece que vale a pena. “É autêntica!” Então o que? Que tédio! Além disso, eu escrevo e produzo todas as minhas músicas!
-Nisso você tem razão. Dezenas de estrelas não escrevem o que cantam e ninguém põe a sua autenticidade em questão…
Exato. Fui invisível por sete anos. Nenhuma gravadora estava interessada em mim. Não havia lugar para uma cantora lírica em um momento que só se trabalhava com rap e pop nos EUA. Nem o rock estava vivo.
-E, em 2011, Video Games de repente a coloca no mapa…
Três anos atrás, eu me tornei visível e as pessoas começaram a me perguntar: “De onde você saiu?”. Haviam várias páginas em branco em minha história e espaço de sobra para inventarem coisas. No fim das contas, a verdade é o que está escrito a seu respeito, a palavra jornalística. Tem sido sempre assim.
-Ou a amam ou a odeiam. Por que você acha que é assim?
Talvez minhas mensagem pareceram confusas. Eu não faço pop, meu processo criativo é mais psicológico. Quando as pessoas começaram a ouvir, já tinha passado dez anos escrevendo e tinha um universo psicológico muito profundo.
-Já chegaram a te tachar de antifeminista…
Sim, alguns acreditavam que a minha mensagem era prejudicial para as mulheres, mas eu estava falando sobre meus sentimentos. Eu tenho um relacionamento maravilhoso com os homens. A energia masculina é uma grande inspiração para mim.
-Da a sensação de que sem certa dose de polêmica é difícil ter sucesso…
Eu não sei. Mas há pessoas que imploram por isso. Eu não procurei.
-Eles também dizem você passou por alguns procedimentos estéticos. Você se incomoda com isso?
Claro que me incomoda! [risos]. Eu gosto de me parecer um camaleão, mas não suporto mentiras.
-Parece que o seu estilo ‘retrô’ é quase uma reação ao estilo hipersexual de outras estrelas como Miley Cyrus, Rihanna ou Lady Gaga. É isso mesmo?
Não é uma declaração de intenções contra o que representam outra cantoras. É meu estilo natural. Embora, sou honesta, às vezes sim eu pensei: “Vou abotoar meus botões” [risos]. É apenas uma manifestação das minhas origens. Minha família é muito tradicional.
-O que você estava procurando quando entrou neste negócio?
Buscava uma comunidade artística como a de Dylan, Joan Baez ou a geração de Jack Kerouac, Allen Ginsberg… na década de sessenta, onde passavam noites escrevendo romances ou músicas folk. Também o respeito como escritora dentro dessa comunidade. E, na verdade, não encontrei nenhuma dessas coisas.
-O que você encontrou nessa mudança?
Para ser honesta, nada. Desde que me tornei conhecida, nada é muito claro em minha vida. Assim que o caminho estiver desmarcado, um novo obstáculo escurece. Eu tive muitos altos e baixos.
-Parece ter sido um processo difícil. Você já pensou em desistir?
Todo o tempo. A vida é curta. Estar entre pessoas que não te entende não é nada agradável.
-Confessa que não gosta muito de se apresentar, porque?
No estúdio, com meu produtor, é quase como uma relação romântica, temos uma química natural. Mas quando você não conhece o seu público, não se pode confiar que eles vão te aceitar se você perder o equilíbrio e cair. Agora que eu sei que isso também faz parte do show e eu estou começando a gostar.
-Quais são as diferenças entre Lizzy e Lana?
Nenhuma. Mudei meu nome para mostrar aos outros como era por dentro. Porque, no momento do nascimento, dão-lhe um nome, localização geográfica e, talvez, até mesmo ditar a profissão que você deve exercer. E eu não quero responder a um arquétipo.
-A propósito, por que um nome artístico latino-americano?
Eu tenho uma grande afinidade com a cultura hispânica. Adoro o seu exotismo e paixão. E eu amo o nome Lana.
-Desde pequena queria ser poetisa. Que tipo de garota você era?
Tinha muita imaginação, um forte diálogo interno, era tradicional e muito precoce. Com dez anos eu pensei que era um adulta. Meus amigos eram os amigos de meus pais, eu pensava que era um deles. E eu adorava escrever.
-Aos 15 anos, você foi enviada para um internato. Isso te marcou?
Talvez… Eu mal me lembro daqueles dias. Para mim, minha vida começou quando fui para Nova York com 18 anos. O que aconteceu antes é envolto em neblina. Eu não gostava do internato, não falava com ninguém. Eu estava no coral, queria cantar com todas as minhas forças e não sabia como.
-O que é mais importante nesta indústria: talento, marketing ou sorte?
Para a maioria das pessoas, é principalmente uma questão de marketing. Para mim, foi a persistência. Era o meu sonho.
-E ninguém tentou te arrastar para outra direção?
Às vezes. Eu faço o disco sozinha, então eu entrego para a gravadora e eles dizem: “Não há nenhum single!” E eu digo: “Eu sei!” [risos]. Você deve ser muito forte, mas eu sempre acabo ganhando.
-Você sempre teve essa confiança?
Como pessoa, sim; musicalmente, não. Aos 20 anos, um famoso produtor reparou em mim depois de que nenhuma gravadora gostou do que eu estava fazendo. Eu entendi que eu não ia ser uma artista conhecida, mas também tinha pessoas que estariam interessadas no que eu estava fazendo. Isso é tudo que eu preciso.
-Você trabalha com pessoas marginalizadas desde que era adolescente. O que essa experiência lhe ensinou?
Sabe aquela expressão: um tigre não pode mudar suas listras? Bem, as pessoas podem mudar suas listras e tornar-se um dragão. Eu vi como pessoas sem esperanças se transformaram e começaram a inspirar os outros.
-Estudou metafísica na faculdade. De onde vem esse interesse?
Com 11 anos, eu já sabia que todos iríamos morrer… e isso me afligia. Os conceitos de infinito e da eternidade, também me torturavam. No colégio interno, eu me inscrevi para aulas Metafísica. Foi o primeiro assunto, além da literatura, que me interessa. Pela primeira vez, eu estava em boa companhia.
-Geralmente falam de um plano divino, o que isso quer dizer?
Antes eu traçava meu caminho e sempre acabava frustrada. Parei de tentar e aceitei que a vida funciona de acordo com suas próprias regras. Quando eu fiz isso, tudo começou a se encaixar. Se, por exemplo, alguém me recomenda um livro, alguém no ônibus acaba deixando-o esquecido pra mim. Coisas assim.
-Sinais?
Sincronicidades. Costuma-se dizer que as coincidências são as maneiras que Deus tem de permanecer anônimo. Sincronicidades são um sinal de divindade. Respire fundo e diga: “Eu não quero nada. Vou deixar as coisas acontecerem.”
-Requer muito auto-controle, certo?
É paciência. Como deixar que as letras venham até mim. Às vezes é doloroso, mas é o único caminho. Sinto que o meu caminho foi revelado a mim, mas eu precisava ser um vaso vazio para que isso acontecesse. Como um conduíte elétrico. A eletricidade não atravessa se você é cheio de bloqueios.
-Sua música é muito melancólica, você também?
Eu me esforço para ser feliz… e eu tenho sido. Sou solitária.
-E onde você busca tranquilidade em meio ao burburinho que ronda uma estrela?
Há muito tempo que eu não estou sozinha. Minha vida pessoal é uma loucura e minha carreira é cheia de altos e baixos. Mas não pode ser pior do que era [risos]. Ela só pode ficar melhor.
créditos: Lana Del Lovers
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