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O site The Time escreveu uma matéria sobre as músicas do Ultraviolence, referências do título ao clássico Laranja Mecânica e outras referências existentes em outras músicas do álbum. Confiram:
À dez anos atrás, eu coloquei um poster na minha parede e nele dizia, “As aventuras de um jovem cujos principais interesses são estupro, ultraviolência e Beethoven.” Era uma replica vintage da propaganda do filme “Laranja Mecânica, plastificada e comprada em uma loja punk da região. A adaptação de Kubrick para o romance de Anthony Burgess, é assim: Um ladrão e estuprador em série de 15 anos chamado Alex mata uma mulher, e depois, opta por reabilitação psicológica durante o tempo em que fica na cadeia. A reabilitação acidentalmente faz com que ele odeie sua música favorita, destruindo até as partes inocentes de sua identidade. A história conclui que antes de ser totalmente humano, o homem deve ser livre para escolher assassinar. Não importa os danos colaterais, nem mulheres mortas. Você não pode prevenir criminosos, pode puni-los.Lana Del Rey aparece em seu mais complicado eu, em seu segundo album, Ultraviolence. No título da música, ela canta com agonia sobre uma relação fisicamente abusiva. Ela repete na música “Ele me bateu (e eu senti como se fosse um beijo)”, uma música escrita em 1962 por Gerry Goffin e Carole King, gravada por The Crystals e Phil Spector, depois, negada por King. Del Rey canta sobre um homem que coloca seu apelido de “veneno” e “beladona” e depois bate nela de uma maneira em que ela comece a acreditar que é um sinal de amor verdadeiro. Ela ouve violinos e violência ao mesmo tempo. “Eu poderia ter morrido ali, já que ele estava bem ao meu lado”, ela canta, sua voz aparecendo várias vezes uma em cima da outra. Morrer de amor, ou morrer de ele? Existe uma diferença?Auxiliada com a produção do talento do The Black Keys, Dan Auebach, Ultraviolence apresenta uma cornucópia infinitamente fascinante da disfunção. Os floreios de voz da Del Rey. Dentro, o álbum é grande, tem um swing vintage e ela canta algumas vezes da mesma maneira que em Born to die, algo que é venerado mas não pode ser tocado. Suas letras fornecem um passeio no mais recente do The Black Keys, “Turn Blue”, que acaba com a conclusão de que “todas as mulheres se foram.” Certo, Del Rey parece zombar. Aqui se concentra uma galeria dos maus.Ambos Del Rey e Auerbach desenham em cima de símbolos significativos da cultura do século 20, mas as motivações que eles procuram parecem estar ainda mais longe. The Black Keys encontra um certo conforto em 1970. Eles adotaram um modelo de tocar e escrever que é bem trilhado e fácil de ser lembrado com afeição. Ultraviolence, por outro lado, parece nostálgico. Mão parece que ela voltou para o século passado nas cantoras antigas, Del Rey cria o clássico com seu jeito feminino usando a estética como arma. Aqui, ela veste um gênero que enquadrada uma visão idealizada de desejo feminino e preenche-o com todas as outras mulheres: as mulheres implicadas pelas músicas que os homens estavam cantando sobre as mulheres que serviam de alimento para as gerações de desgosto masculino.Depois dos refrões apertados e amostras de hip-hop que impulsionaram a sua estreia, Del Rey agora mergulha completamente no impulso do século 21 para fetichizar a cultura do século 20. “Eles dizem que sou muito nova para amar você,” ela canta em “Brooklyn Baby”. No começo, parece que ela está falando sobre um homem mais velhom mas depois percebemos que ela está falando de vários deles: Lou Reed, the Beats, a primeira geração de musicistas de jazz e outros. A música não é sobre o Brooklyn 30 anos atrás, a que está extinta, quando os artistas viviam rápido e barato. Não, é sobre o Brooklyn hoje, um confuso museu que homenageia sua própria memória geográfica através de um canibalismo cultural bizarro vivo. “Sou a bebê do Brokklyn,” ela canta. “Se você não entendeu, esqueça.” Esta é de longe a música mais milenar já escrita.Ao longo do Ultraviolence, marcas de superfície velha e cultura antiga desaparecem. Chevy Malibus descem na costa da California, mulheres usam colares de pérola e cabelo curvado, até Hemingway aparece brevemente ao lado de Burgess. Del Rey controla sua órbita como se ela estivesse se injetando em toda a arte que ela consumiu muito tempo depois que se tinha desvanecido do zeitgeist (Zeitgeist é um termo alemão cuja tradução significa espírito da época, espírito do tempo ou sinal dos tempos). E ela é. Sua re-imaginação do passado com ela sendo o centro é como uma necessidade, não um conforto. E todas aquelas mulheres que os rock stars já cantaram sobre? Elas eram pessoas reais e nós nunca ouvimos o lado delas da história. Del Rey canta sobre isso. Graças a suas palavrs, sua voz e sua presença impenetrável, ela dá vida ao interior das mulheres.“Sou louca pra caralho,” ela insiste em “Cruel World”. “Eu quero seu dinheiro, poder e glória,” ela canta em “Money Power Glory”. “Eu fodi meu caminho até o topo,” ela canta em uma música naturalmente chamada “Fucked My Way Up to the Top”. “Esse é meu show”. Em uma série de manobras deliciosamente a-lá Kanye, ela antecipa o pior de seus críticos.Del Rey tem gestos bravos e muitas vezes absurdor, mas, meu Deus, ela realmente parece querer dizer eles. No refrão de “Money Power Glory” existem arcos com sua melodia mais triunfante, enquanto em “Shades of Cool” e “West Coast” temos um som de coração partido. Ela nunca antou dessa maneira antes. Os personagens e os artefatos envolta dessas músicas, parecem artificiais, como se estivessem em um estoque qualquer, mas a música de Del Rey os puxa e os dá vida. Ela anda numa linha de melodrama elevado, exigindo investimento emocional em histórias que abertamente mostram sua própria falsidade. Por causa da maneira que ela canta, você começa a de perguntar se realmente existe amor verdadeiro por trás de todo aquele gloss.Esse amor se infiltra mais profundamente em uma das músicas mais difíceis para desvender, o que queima lentamente, as cordas em “Old Money”. A penúltima música do álbum lembra um pouco de “Young and Beautiful”, música que foi uma colaboração da Lana para a trilha sonora do filme The Great Gatsby, de Baz Lurhmann. Talvez “Old Money” tenha a mesma ficção. A maneira que aproximam saúde e perda, possessão material e necessidade emocional, eu acho que isso combina. Parece que Del Rey canta por Daisy Buchanan, o amor de Gatsby cuja história foi contada apenas pelo homem ao seu lado. De uma maneira, Del Rey dá mais vida a personagem do que Carey Mulligan deu na frente da câmera. “Vou correr até você, vou correr até você, vou correr, correr, correr,” ela canta em um timbre que cristaliza o paradoxo desejo e calor de Daisy, uma tristeza sutil, uma tristeza que F. Scott Fitzgerald simboliza com a traição americana que é contínua.Eu continuo me aprofundando em Ultraviolence porque eu quero entender o que Del Rey está tentando entender. Eu quero entender porque a cultura em volta de mim continua tendo emblemas – porque existem posters de filmes de 40 anos em quartos de dormitórios, porque posso fazer meu iphone parecer com uma polaroid, porque 90,000 pessoas cantam junto as raízes do rock no Bonnaroo. Eu quero saber por que reutilizar essas coisas, alcançando o máximo do cronológico e querendo saber que poder isso dá. Lana Del Rey olha para as imagens que temos e tenta encontrar o que está faltando nelas. O que nós fazemos para evitar comprar fotos da Marilyn Monroe sem pensar no porque Norma Jeane Mortenson morreu tão jovem? Essas histórias nos mantém fracos? Ultraviolence preenche os espaços por trás dos ícones, para imaginar a tristeza dessas mulheres enquanto o holofote era todo nos homens.“Laranja Mecânica” usa a palavra “Ultraviolence” para se referir a agressões de gangues com violência regular. Não estou certo se é isso que Del Rey quer falar sobre. Ela usa a palavra para falar sobre violência física, mas a violência final parece para ela, seria o apagamento, o silenciamento, negação, as coisas que você não ouve sobre porque existe essa ausência por natureza. Você pode perceber isso quando lê On The Road ou ouve Berlin e tetna imaginar a vida das mulheres que são mencionadas, mulheres que só existem para esculpir histórias de homens.O espaço negativo é seu próprio tipo de violência. Lana Del Rey dá passos para as sombras que não a acompanham. Ela tem poder, sussurrando segredos antigos, dando voz a personagens que nunca irão falar por si mesmos. Ela entra em um mundo onde estupro não está na mesma categoria de “ultraviolência”, pegando uma foto de si mesma olhando fixamente para a câmera e colocando essa segunda palavra embaixo. Ela faz sua violência através da cultura do século passado, que já foi tomada por pixels. Ela é exatamente a vilã que a nossa história precisa.
Créditos ao nosso parceiro: Lana Brasil
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